Once upon a time there was a little girl...
… que teve uma infância muito feliz, com carinho, brincadeiras e muitas traquinices à mistura… Mas essa menina cresceu!
Cresceu e abriu os olhos para o mundo…
Quis tirar um curso superior e amando teatro teve de desistir do seu sonho porque a mãe não aprovava. Tentou então dentro dos seus interesses escolher uma profissão que a mãe aprovasse, para que um dia mais tarde alcançasse a sua independência e conseguisse seguir o seu sonho!
Escolheu ser enfermeira e dedicou-se a aprender, a conhecer novos amigos e a crescer, até que um dia o seu mundo ruiu…
Encontrou-se perdida num mundo onde os amigos estavam sempre distantes, onde ninguém tinha tempo para um abraço, onde lhe pediam ajuda que ela não podia dar. Encontrou-se perante uma profissão que não a realizava, perdeu o rapaz que mais amou e deparou-se com um caos de emoções e sentimentos que entravam em derrocada cada vez que insistia naquele caminho!
E então essa menina-mulher decidiu começar de novo, abandonar o curso, abandonar sentimentos que já não lhe faziam bem e reiniciar um novo ciclo na sua vida!
Ganhou coragem e enfrentou os pais, contou-lhes da sua decisão pedindo desculpa pelos 4 anos que (por menores que tenham sido os gastos) andaram a investir na carreira dela…
Durante aqueles 4 aos tinha-se tornado uma “gestora” formidável, com os 400euros que recebia de bolsa conseguia pagar a renda (visto estar deslocada em tempo de aulas), transportes, propinas, internet, electricidade, água e ainda a alimentação, tudo para que não tivesse de pedir dinheiro aos pais que tanto esforço faziam para manter os seus irmãos.
Por sempre ter dado valor aos pais foi sempre tentando dar o menor prejuízo possível no baixo orçamento familiar, conseguindo com o magro dinheiro que lhe sobrava poupar o suficiente para conseguir comparar a sua própria roupa e calçado (que acabava partilhando com a irmã que entretanto também deixara de pedir dinheiro aos pais).
Os pais receberam a notícia da desistência um bocado em choque mas acabaram por “aceitar”.
Visto que o seu desejo sempre esteve intimamente ligado com as artes vasculhou, procurou até que encontro o curso ideal para si, que se enquadrava nos seus gostos e com alguma saída profissional – Animação e Produção Cultural.
Deparou-se então com um problema: na sua cidade paixão, o Porto, só existia uma faculdade que leccionava o curso que pretendia frequentar e essa faculdade era privada!
Mas não se acanhou, procurou emprego e garantiu aos pais que seria ela a pagar a frequência do curso com todos os gastos que isso poderia acarretar. Trabalhou 4 meses a tempo inteiro e reuniu o dinheiro suficiente para pagar a inscrição e a matrícula. Passou no exame nacional, teve média suficiente e matriculou-se. Decidiu que o seu futuro valia o esforço do presente e tomou a decisão de continuar a trabalhar ao fim-de-semana não se importando com tudo o que a sua juventude pudesse vir a perder com essa decisão. O seu futuro estava em primeiro lugar!
O trabalho corria bem, começava a fazer novos amigos e parecia que finalmente a vida começara a sorrir-lhe. Mas cada vez que estava em casa tudo se desmoronava novamente com as cruéis palavras que a sua mãe fazia questão de lhe lançar, mais cortantes que quaisquer punhais. Era como se quanto mais feliz ela estivesse mais motivos a mãe tinha para a fazer sentir mal.
A sua relação com a mãe nunca fora das melhores. A mãe teve uma vida difícil, de privação e sofrimento e acreditara que ao casar a sua vida fosse melhorar, mas depressa demais veio a primeira filha e as privações continuavam.
Por um lado ela percebia a mãe, tinha uma profissão que não a realizava mas não podia desistir ou mudar porque provocaria demasiada instabilidade financeira numa família apenas com dois salários mínimos e três “crianças” na escola.
Mas a mãe nunca percebera (ou acreditara) que a filha desse valor ao sacrifício que fazia e sempre tratará as filhas com alguma distância e frieza.
Era uma mãe capaz das palavras mais frias, de fazer a filha sentir-se um peso para ela mesmo com todo o seu esforço para ser o mais financeiramente independente possível dos pais.
Frases como: “Eu não vou sustentar-te toda a vida” e “Eu não preciso de ti para nada”, eram pedaços do seu dia-a-dia que lhe pesavam na alma como nódoas negras eternas. Hoje foi mais um desses dias, onde teve que ouvir estas palavras e sentir um nó na garganta com as palavras que não conseguia dizer, que não conseguiam ser ditas…
“Oh mãe, se soubesses o quanto te amo, o quanto me pesa não ser a filha que querias que fosse, que as minhas decisões te magoem e te façam pensar que não prezo e não entendo o esforço que fazes! Mãezinha, eu amo-te tanto, porque me magoas com essas palavras assim…”
2 comentários:
bem real!!
como eu conheço essa história...
parece tão breve e ja dura a tantos anos... ne miga?
adoro te
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