- És uma peste, eu não queria nada tomar banho... Quero ir p'ro lar, leva-me p'ro lar!
Começa assim uma manhã de estágio a não esquecer... Com uma senhora de 95 anos que não se segurava em pé mas que me pedia a bengala... Que não comia nem metade da comida que eu com tanto custo lhe tentava dar, e que me insultava por não lhe dar bolachas...
- No lar dão-me bolachas... Leva-me p'ro lar!
É estranho, pensei eu naquelas palavras, normalmente as pessoas têm uma imagem pouco carinhosa dos lares, imaginando-os lugares onde se "despejam" os não activos, os anosos da nossa sociedade, aqueles cujas famílias não têm "tempo" para estar com e cuidar de.
- Então a Sra quer ir p'ro lar? Não é bem tratada aqui?
- A irmã B. está à minha espera com o feijão verde, vai arrefecer... E lá ela da-me duas bacias, uma para as cascas, e outra as {palavra que não compreendi}! Mas vai buscar-me a bengala da M. que eu quero ir lá abaixo...
E foi então que eu compreendi que era para aquilo que todos caminhamos, para um discurso incompreensível, onde o presente e o passado se misturam na continuação da mesma frase e o nosso cérebro é incapaz de distinguir o agora e o aqui do antes e do lá.
A verdade é só uma, as coisas que nos marcam são as que ficam, por mais incoerente que o nosso discurso possa ser. E o lar, que para aquela senhora era a sua verdadeira casa, o sítio onde conhecia de cor todos os que lhe davam bolachas, ou o feijão verde, ou as bacias, ou as mantas pretas que tantas vezes me pediu dizendo que eram as mais quentinhas... E o lar, o nosso "lar" são também as pessoas que nos marcam o passado e nos tornam o presente numa saudade eterna mesmo que estando afastados apenas por curto tempo... Mas o que será para aquela senhora o tempo, não o verá certamente como eu, e acredito que aquela estadia de alguns dias longe do seu "lar" é tão dolorosa como a minha longe do meu... Que é o meu passado, aquele que me tornou na que fui, na que talvez ainda seja, na que não sei se serei... E por isso esta é a minha vez...
Começa assim uma manhã de estágio a não esquecer... Com uma senhora de 95 anos que não se segurava em pé mas que me pedia a bengala... Que não comia nem metade da comida que eu com tanto custo lhe tentava dar, e que me insultava por não lhe dar bolachas...
- No lar dão-me bolachas... Leva-me p'ro lar!
É estranho, pensei eu naquelas palavras, normalmente as pessoas têm uma imagem pouco carinhosa dos lares, imaginando-os lugares onde se "despejam" os não activos, os anosos da nossa sociedade, aqueles cujas famílias não têm "tempo" para estar com e cuidar de.
- Então a Sra quer ir p'ro lar? Não é bem tratada aqui?
- A irmã B. está à minha espera com o feijão verde, vai arrefecer... E lá ela da-me duas bacias, uma para as cascas, e outra as {palavra que não compreendi}! Mas vai buscar-me a bengala da M. que eu quero ir lá abaixo...
E foi então que eu compreendi que era para aquilo que todos caminhamos, para um discurso incompreensível, onde o presente e o passado se misturam na continuação da mesma frase e o nosso cérebro é incapaz de distinguir o agora e o aqui do antes e do lá.
A verdade é só uma, as coisas que nos marcam são as que ficam, por mais incoerente que o nosso discurso possa ser. E o lar, que para aquela senhora era a sua verdadeira casa, o sítio onde conhecia de cor todos os que lhe davam bolachas, ou o feijão verde, ou as bacias, ou as mantas pretas que tantas vezes me pediu dizendo que eram as mais quentinhas... E o lar, o nosso "lar" são também as pessoas que nos marcam o passado e nos tornam o presente numa saudade eterna mesmo que estando afastados apenas por curto tempo... Mas o que será para aquela senhora o tempo, não o verá certamente como eu, e acredito que aquela estadia de alguns dias longe do seu "lar" é tão dolorosa como a minha longe do meu... Que é o meu passado, aquele que me tornou na que fui, na que talvez ainda seja, na que não sei se serei... E por isso esta é a minha vez...
1 comentário:
Compreendo aquilo k dizes de tar a ajudar alguem e esse alguem ofender-nos enquanto o ajudamos. Nao por experiência, mas por ter assistido a episodios desses. Sabes, tenho medo da velhice... e parece-me k tu tb tens. Questiono-me sobre como sera ficar ali num banco de jardim a esperar a morte (como nos diz a mafalda veiga na cançao "velho").
passa pelo meu blog "podemosserassim.blogspot.com"
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