E sai um pensamento fresquinho...

terça-feira, 5 de outubro de 2010

"O Diário de como te esqueci"

Galway, 6 de Janeiro de 1920

Meu querido.

Hoje acordei novamente a pensar em ti. Como em tantos outros dias o meu rosto pareceu-me vermelho e inchado ao acordar. Devo ter chorado novamente enquanto dormia. Decidi voltar a escrever-te... nem imaginas como me entristece saber que nem as minha cartas chegaram até a ti agora que partiste!

Fez ontem um ano desde a última vez que estivemos juntos, e não há um único dia que não surjam na minha mente perguntas como: Estás bem? Estás feliz? Sentes a minha falta? Porque eu sinto... sinto terrivelmente a tua falta!

Tenho de confessar que a minha força me tem surpreendido, pensei que fosse quebrar, que me iria desfazer de desgosto, mas a minha vontade de te deixar orgulhoso de mim deu-me forças. No entanto continuo a ter dias insuportavelmente dolorosos, por vezes sinto-me tão só, tão perdida, tão confusa e indecisa. sem saber se devo acreditar que ainda estás vivo.

É tão difícil controlar a vontade e a necessidade de falar contigo, de falar com o meu melhor amigo, com a pessoa que me acalmava as dúvidas, me aconselhava os dias, me aconchegava a alma. Nos dias menos bons, morro de medo que não sintas a minha falta.

Não consigo aceitar que duas pessoas que se amam tanto sejam separadas desta maneira tão cruel. Apenas sei que quando te levaram, levaram também uma parte de mim contigo.

Ontem dei por mim sentada na soleira da porta das traseiras a imaginar que as criaturas do bosque me ouviam... Falei-lhes de ti, de nós... Quem sabe não te mandam a minha saudade no vento.

Antes de dormir, quando me sento e oro à lua, acendo sempre uma vela para te iluminar as noites mais negras, não quero nunca que te sintas sozinho, abandonado, porque o meu pensamento está sempre ligado a ti. E não consigo evitar pedir que esta separação termine logo, que volte a sentir os teus braços à minha volta, os teus lábios no meu cabelo enquanto me dizes que tudo vai ficar bem.

As pessoas comentam sobre o estado das coisas, sobre esta estúpida guerra e revolta-me quando dizem que este ano passou tão veloz, revolta-me porque parece-me inconcebível que não lhes pese nos corações a auséncia de tantos homens bons.

Este último ano pareceu-me uma vida. Uma insuportável vida num mundo onde não existes.

P.S. Ainda não consigo cumprir a promessa, perdoa-me.

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