Muitos se perguntaram porque não parava, ela própria já tinha feito essa pergunta muitas vezes ao longo daquele sinuoso caminho, mas, um pé à frente do outro, uma contracção e relaxamento de músculos minuciosamente controlados a impeliam para a frente, tinha de correr, tinha de continuar. Continuava porque sentia que fazia sentido mesmo quando este não se via.
Aquela corrida começada à tanto tempo significava para ela tanto que nem sabia ao certo o quê. Começou sem motivo aparente, sem razão, sem escolha, simplesmente começou, e tornou-se a sua vida.
Pouco se lembrava da sua vida antes de ter iniciado aquela corrida, mas do pouco que surgia na sua caixa de recordações, sabia que tinha de correr, não para fugir, porque fora feliz, mas porque sim, porque tinha de correr... Não conseguía explicar, passara a sua vida a procurar explicação, sentido, razão, para tudo o que acontecia, e nunca encontrou, mas o sentido estava ali, dentro dela, no que sentia, no que queria, e isso bastava-lhe, mesmo que não conseguísse tornar a explicação em palavras, imagens, ou símbolos, compreensíveis ao seu cérebro humano que a restringia, sentia as razões dentro de si, e aprendeu a ter esses sentimentos como justificação suficiente. E então começou a correr!
Por vezes cansava-se, quando um ramo mais baixo de uma daquelas árvores retorcidas lhe prendia o vestido e lhe travava por momentos o ritmo da corrida. Aquele vestido azul que escolhera por significar tanto para ela havia perdido a sua cor original, exibindo agora um tom cinzento-chuva que ao fim de contas se enquadrava melhor naquele ambiente por onde corria...
Porque corria ali? Porque a paisagem não importa, na sua cabeça corria no meio de um prado onde as folhas moribundas que cobriam o chão davam lugar a verdejantes pastagens, onde o piar sinistro dos corvos se transformava numa melodiosa canção de uma cotovia, onde a ausência de cor era substituída por uma extensão de flores silvestres, amarelas, brancas, cor-de-rosa, e da sua cor mágica, o azul, naquela tonalidade clara que a acalmava e a fazia sentir-se mais ela própria.
Sabia que um dia a sua corrida ia terminar, mas não era esse o motivo porque corria, não era a certeza de que por fim terminaria a corrida que a fazia correr, a corrida em si era o que mais felicidade lhe dava... Não queria saber se estava no caminho certo, se tomava um atalho, se se perdia, se andava em círculos, nada disso a demovia, nada disso a travava ou fazia diminuir a sua passada firme e decidida. Mas era assolada por uma felicidade imensa quando surgia uma bifurcação, a maioria das pessoas tremia perante uma decisão importante, pesava as consequências, todos os prós e os contras, ficavam presos no impasse, na indecisão, no medo, mas ela não temia a escolha, não temia errar, sabia que o medo era o maior erro e corria por um dos caminhos inundada na felicidade que as escolhas lhe davam, a felicidade de ter livre arbítrio, de saber que só se influenciava pelo que queria, que só a magoava quem ela deixava que entrasse na sua corrida, era ela que escolhia, e que maior felicidade pode existir do que saber que somos livres?
A sua corrida cruzara-se com tantas outras, muitas vezes correu com outras criaturas, com outros seres, com outros meio-humanos como ela. Meio-humano? Sim, porque desde que começara a correr, sentia que nas suas veias circulava a essência dos que são transcendentais, daqueles que se elevam, daqueles que se tornaram em mais do que eles próprios. Surpreendeu-se com a quantidade de meios-humanos, na verdade nunca acreditou que um dia se tornaria num deles, e isso rasgava-lhe o sorrido e enchia-lhe os olhos de um brilho cristalino e transparente, e era nesse momentos que quem a olhasse veria a sua alma, a beleza dos seus pensamentos e sentiria as razões da sua corrida, e mesmo sem as perceber, ao as sentir, aceitaria, tal como ela as aceitava, que era razões mais que validas para correr. E muitos começaram a correr quando a viam passar...
Alegrava-se por arrastar com ela, por poucas que fossem, aquelas criaturas que finalmente abriam os olhos e viam que podiam ser felizes mesmo correndo sobre espinheiros e urtigas...
Um dia cruzou-se com alguém que andava a passo, e sentiu um impulso para adequar a sua corrida ao ritmo daquele estranho ser que num segundo a deixou fascinada. E percebeu que a sua corrida tinha chegado ao fim, que finalmente percebeu que seria no fim da corrida que aquele sentimento se tornaria atingível para o seu córtex cerebral e se tornaria numa associação de palavras passível de se traduzir em qualquer língua... Correu porque tinha de correr, correu porque não teria sido feliz se tivesse parado, porque se tivesse parado já tinha encontrado aquele ser com os olhos brilhantes, de rosto pálido e de uma beleza inatingível, e já teria caminhado com ele até à sua meta, até ao seu fim. Percebeu que caminhar, correr, é o melhor que existe naquela floresta que lhe inundou a alma, que mesmo quando a luz de desvaneceu, os seus pés continuaram a sentir o caminho, mesmo quando caminhava sozinha sabia que mais à frente encontraria alguém, e essas certezas, as certezas da imprevisibilidade e da possibilidade de escolha foram tudo o que realmente teve de seu, mas foi o suficiente para que se iluminasse em felicidade e fosse candeia para os perdidos das corridas tal como ela foi. E então deixou a sua corrida abrandar, acompanhada do ser que a fascinou deixou-se envolver nos seus braços e beijando-o fechou os olhos e não os voltou a abrir.
Aquela corrida começada à tanto tempo significava para ela tanto que nem sabia ao certo o quê. Começou sem motivo aparente, sem razão, sem escolha, simplesmente começou, e tornou-se a sua vida.
Pouco se lembrava da sua vida antes de ter iniciado aquela corrida, mas do pouco que surgia na sua caixa de recordações, sabia que tinha de correr, não para fugir, porque fora feliz, mas porque sim, porque tinha de correr... Não conseguía explicar, passara a sua vida a procurar explicação, sentido, razão, para tudo o que acontecia, e nunca encontrou, mas o sentido estava ali, dentro dela, no que sentia, no que queria, e isso bastava-lhe, mesmo que não conseguísse tornar a explicação em palavras, imagens, ou símbolos, compreensíveis ao seu cérebro humano que a restringia, sentia as razões dentro de si, e aprendeu a ter esses sentimentos como justificação suficiente. E então começou a correr!
Por vezes cansava-se, quando um ramo mais baixo de uma daquelas árvores retorcidas lhe prendia o vestido e lhe travava por momentos o ritmo da corrida. Aquele vestido azul que escolhera por significar tanto para ela havia perdido a sua cor original, exibindo agora um tom cinzento-chuva que ao fim de contas se enquadrava melhor naquele ambiente por onde corria...
Porque corria ali? Porque a paisagem não importa, na sua cabeça corria no meio de um prado onde as folhas moribundas que cobriam o chão davam lugar a verdejantes pastagens, onde o piar sinistro dos corvos se transformava numa melodiosa canção de uma cotovia, onde a ausência de cor era substituída por uma extensão de flores silvestres, amarelas, brancas, cor-de-rosa, e da sua cor mágica, o azul, naquela tonalidade clara que a acalmava e a fazia sentir-se mais ela própria.
Sabia que um dia a sua corrida ia terminar, mas não era esse o motivo porque corria, não era a certeza de que por fim terminaria a corrida que a fazia correr, a corrida em si era o que mais felicidade lhe dava... Não queria saber se estava no caminho certo, se tomava um atalho, se se perdia, se andava em círculos, nada disso a demovia, nada disso a travava ou fazia diminuir a sua passada firme e decidida. Mas era assolada por uma felicidade imensa quando surgia uma bifurcação, a maioria das pessoas tremia perante uma decisão importante, pesava as consequências, todos os prós e os contras, ficavam presos no impasse, na indecisão, no medo, mas ela não temia a escolha, não temia errar, sabia que o medo era o maior erro e corria por um dos caminhos inundada na felicidade que as escolhas lhe davam, a felicidade de ter livre arbítrio, de saber que só se influenciava pelo que queria, que só a magoava quem ela deixava que entrasse na sua corrida, era ela que escolhia, e que maior felicidade pode existir do que saber que somos livres?
A sua corrida cruzara-se com tantas outras, muitas vezes correu com outras criaturas, com outros seres, com outros meio-humanos como ela. Meio-humano? Sim, porque desde que começara a correr, sentia que nas suas veias circulava a essência dos que são transcendentais, daqueles que se elevam, daqueles que se tornaram em mais do que eles próprios. Surpreendeu-se com a quantidade de meios-humanos, na verdade nunca acreditou que um dia se tornaria num deles, e isso rasgava-lhe o sorrido e enchia-lhe os olhos de um brilho cristalino e transparente, e era nesse momentos que quem a olhasse veria a sua alma, a beleza dos seus pensamentos e sentiria as razões da sua corrida, e mesmo sem as perceber, ao as sentir, aceitaria, tal como ela as aceitava, que era razões mais que validas para correr. E muitos começaram a correr quando a viam passar...
Alegrava-se por arrastar com ela, por poucas que fossem, aquelas criaturas que finalmente abriam os olhos e viam que podiam ser felizes mesmo correndo sobre espinheiros e urtigas...
Um dia cruzou-se com alguém que andava a passo, e sentiu um impulso para adequar a sua corrida ao ritmo daquele estranho ser que num segundo a deixou fascinada. E percebeu que a sua corrida tinha chegado ao fim, que finalmente percebeu que seria no fim da corrida que aquele sentimento se tornaria atingível para o seu córtex cerebral e se tornaria numa associação de palavras passível de se traduzir em qualquer língua... Correu porque tinha de correr, correu porque não teria sido feliz se tivesse parado, porque se tivesse parado já tinha encontrado aquele ser com os olhos brilhantes, de rosto pálido e de uma beleza inatingível, e já teria caminhado com ele até à sua meta, até ao seu fim. Percebeu que caminhar, correr, é o melhor que existe naquela floresta que lhe inundou a alma, que mesmo quando a luz de desvaneceu, os seus pés continuaram a sentir o caminho, mesmo quando caminhava sozinha sabia que mais à frente encontraria alguém, e essas certezas, as certezas da imprevisibilidade e da possibilidade de escolha foram tudo o que realmente teve de seu, mas foi o suficiente para que se iluminasse em felicidade e fosse candeia para os perdidos das corridas tal como ela foi. E então deixou a sua corrida abrandar, acompanhada do ser que a fascinou deixou-se envolver nos seus braços e beijando-o fechou os olhos e não os voltou a abrir.